domingo, 2 de dezembro de 2012

Vocação, não Obrigação.


“(...) ao lado da aptidão do Espírito, há a do médium que é para ele um instrumento mais ou menos cômodo, mais ou menos flexível, e no qual descobre qualidades particulares que não podemos apreciar (...)”
“(...) um músico muito hábil tem sob aos mãos vários violinos que, para o vulgo, seriam todos bons instrumentos, mas entre os quais o artista consumado faz grande diferença; neles percebe nuanças de uma delicadeza extrema, que o farão escolher a uns e rejeitar a outros.(...)” Livro dos Médiuns- Allan Kardec, cap XVI, item 185.
A mediunidade é fenômeno inerente ao processo evolutivo; faz parte da condição natural de todos os seres humanos. Não se pode impedi-la, pois seu desenvolvimento vai continuar independentemente de nossos medos, ilusões e incredulidade. Considerada uma aptidão ontogenética do organismo humano, prossegue de forma dinâmica e automática através das vidas sucessivas.
A mediunidade esta intimamente ligada à vocação, aptidão, realização, criatividade, espontaneidade, e desvinculada por completo de qualquer obrigação ou pressão auto-imposta.
O termo “desenvolvimento” tem relação etimológica com alguma coisa existente num invólucro e que precisa ser desenrolada ou aberta. Em vista disso, concluímos que a faculdade psíquica está em germe e se manifestará, no tempo oportuno de dentro para fora. Com esta visão mais lúcida do assunto, percebemos a estreita ligação dela com uma “potencialidade/vocação” humana, e não com encargos ou incumbências externas.
A vocação é para o homem o que o perfume é para a flor. O que mata o talento, na maioria das vezes, são as regras autoritárias de conduta, pois todos somos convocados a viver com naturalidade.
Apesar da tendência intima dos indivíduos de viver em grupo, isto é, em sociedade, há neles uma natureza individual e uma necessidade peculiar de seguir seu próprio caminho. Vocação é ouvir a voz da própria alma.
A criatura que percebeu sua tendência descobriu, na verdade, seus talentos – propriedades inatas nos seres humanos e que fazem parte de sua natureza divina.
Na Idade Média, a Igreja considerava incompreensível e misterioso o livro da Natureza¹, substituindo-o pelas bulas pontificiais, ou seja, o “livro das infalibilidades”. Neste último, compuseram suas ideias e pensamentos com causas e fins predeterminados, acreditando reinar num mundo situado no centro dos cosmos e lançando suas raízes de poder durante muitos séculos.
Esse pensamento religioso criou uma espécie de “intermediários divinos” entre os Céus e a Terra, isto é, entre a sociedade e as forças supostamente sobrenaturais. Eram forças naturais, mas, por serem inexplicáveis, eram denominadas sobrenaturais e/ou antinaturais, milagrosas.
Esses “intermediários” autodenominavam-se “senhores privilegiados”, convencendo as pessoas de que elas precisavam de guias ou sacerdotes pra ser conduzidas seguramente pelos verdadeiros caminhos da vida plena.
Na atualidade, os Espíritos Superiores afirmam que as leis divinas ou naturais estão escritas no livro da Natureza, que elas se encontram na consciência de todas as criaturas e que podemos conhecê-las perfeitamente, procurando-as em nossa própria intimidade.²
O Espiritismo nos ensina que somos guias e sacerdotes de nós mesmos e que nosso templo consagrado é nosso mundo intimo, libertando-nos, assim, de toda subjugação, separação ou desigualdade que possa ter sido criada no passado.
A Natureza é um livro sagrado. Quem a usar de forma profana certamente dela se apartará. Afastar-se da Natureza é afastar-se de si próprio. Se abusarmos dela, destruiremos a fonte de manutenção de nossa própria existência, porque também somos Natureza.
Não devemos forçar a eclosão das faculdades extra-sensoriais. Mas podemos oferecer condições apropriadas para que venham a aflorar de forma espontânea e equilibrada.
Obrigação pode ser conceituado como tudo aquilo que nos é imposto ou forçado. Obrigar-se a algo ou a alguém implica ser governado pela expressão ilusória “deveria”.
“Devo desenvolver a mediunidade” equivale a dizer “não quero, mas sou obrigado a desenvolver”. Não somos obrigados a nada!
Mesmo quando realizamos algo significativo, se somente pensarmos nele como compromisso ou trabalho, sem o necessário gosto e motivação, alguma coisa está errada conosco. Por mais que concretizemos feitos edificantes envolvidos por motivos sinceros, se sua realização não for feita com prazer/vocação, sentiremos mais esforço e imposição do que felicidade e conforto. Ninguém deve viver e trabalhar sem contentamento.
Deus não dá encargos e incumbências às criaturas, mas coloca nelas vocações ou predisposições inatas. Os dons espirituais são capacidades da alma. Vocação é um talento a exercido de uma forma exclusivamente nossa. A maneira como identificamos ou entendemos as nossas forças psíquicas determinará a produção mediúnica que teremos.
Os Espíritos Superiores definem os fenômenos extra-sensoriais como resultado de uma faculdade comum do Espírito, quando dizem: “(...) ao lado da aptidão do Espírito, há a do médium que é para ele um instrumento mais ou menos cômodo, mais ou menos flexível, e no qual descobre qualidades particulares que não podemos apreciar”.
Mediunidade é uma potencialidade humana que pode ser comparada a um “instrumento de cordas” oculto dentro de nós. As melodias que dele provem, em muitas ocasiões, passam despercebidas de nosso entendimento consciente. “Um músico muito hábil tem sob as mãos vários violinos que, para o vulgo, seriam todos bons instrumentos, mas entre os quais o artista consumado faz uma grande diferença; neles percebe nuanças de uma delicadeza extrema, que o farão escolher a uns e rejeitar a outros (...)”.
A mediunidade se transforma em crescimento  amadurecimento espiritual quando for exercida com prazer e compreendida em termos de espontaneidade e predisposição natural.
Livro: A Imensidão dos Sentidos.
Hammed / Francisco do Espírito Santo Neto.

Estudando O Livro dos Espíritos – Allan Kardec. 
621. Onde está escrita a lei de Deus?
Resposta: Na consciência.
621-a - Visto que o homem traz em sua consciência a lei de Deus, que necessidade havia de lhe ser ela revelada?
Resposta:  Ele a esquecera e desprezara. Quis então Deus lhe fosse lembrada.
626. Só por Jesus foram reveladas as leis divinas e naturais? Antes do seu aparecimento, o conhecimento dessas leis só por intuição os homens o tiveram?
Resposta: Já não dissemos que elas estão escritas por toda parte? Desde os séculos mais longínquos, todos os que meditaram sobre a sabedoria hão podido compreendê-las e ensiná-las. Pelos ensinos, mesmo incompletos, que espalharam, prepararam o terreno para receber a semente. Estando as leis divinas escritas no livro da Natureza, possível foi ao homem conhecê-las, logo que as quis procurar. Por isso é que os preceitos que consagram foram, desde todos os tempos, proclamados pelos homens de bem; e também por isso é que elementos delas se encontram, se bem que incompletos ou adulterados pela ignorância, na doutrina moral de todos os povos saídos da barbárie.

Nenhum comentário:

Postar um comentário