quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Ante a vida futura – Abdias Oliveira

O conhecimento da vida futura e a sua conseqüente aceitação tranqüila, como decorrência de uma conscientização em tomo da realidade espiritual, produz, no homem, um clima moral que lhe molda o caráter com vigor, tomando-o sereno e forte em quaisquer circunstâncias.
Sabendo que as injunções físicas e os eventuais sucessos terrenos fazem parte de uma programática que não se encerra no túmulo, antes, a partir dali se desdobra natural e continuamente, logra enfrentar todas as ocorrências com calma e lucidez mental, considerando a brevidade em que transcorrerão ditas dificuldades, quando assim o forem, ante o infinito do tempo que dispõe à frente, convidativo.
As metas se lhe deslocam do plano imediatista, gozador, para outra dimensão em que o prazer não se faça acompanhar de fadiga, nem a ilusória felicidade seja sucedida pela frustração, quando não pela amargura.
A certeza da vida espiritual dilata a visão e retempera o ânimo daquele que se enquadra no seu contexto superior, contrapondo-se às aflitivas situações do ponto de vista puramente material.
Diante das graves ocorrências não receia, antes renova a coragem para enfrentar com tranqüila altivez e resolver o problema que lhe surge como desafio.
No alarido decorrente da precipitação, mantém-se em austera postura, não se perturbando com o desencontro das opiniões, nem com a balbúrdia que obnubila a consciência, distorcendo a realidade na sua configuração legítima.
Sabe encarar a dor e a dificuldade não como castigo ou vitória do mal transitório, porém, como um chamamento à sua fé e um teste à sua capacidade de discernimento, com o conseqüente equilíbrio da ação bem dirigida.
Sabe que somente ocorre o que lhe é melhor para o progresso do espírito, por isso não malbarata o tempo na avaliação dos danos, quando estes se produzem, examinando os resultados proveitosos, de que se poderá utilizar no futuro, impedindo a repetição da ocorrência negativa.
Não recua, porque conhece com lógica que todas as coisas a Deus pertencem, e os fatos obedecem a um traçado superior como resultado das atitudes pretéritas de que o endividado não se consegue evadir.
Doma as más inclinações, impedindo que elas o tomem nos momentos mais ásperos, ocasiões em que se deve recolher à oração e à vigilância, ao invés de tombar inerme nas urdiduras da irresponsabilidade de qualquer natureza.
Decide, em definitivo, as normativas de comportamento com que estabiliza as emoções; dá direção às aspirações, livrando-se, de uma por todas as vezes, da instabilidade e da alucinação.
Medita no ensino evangélico, quanto possível, de cujo hábito salutar haure força e vitalidade para não soçobrar entre os escombros das águas encapeladas das paixões inferiores.
Amadurece com a dor ao invés de exasperar-se com ela; solidariza-se com o padecente, antes que dele afastar-se; cultiva o otimismo em detrimento das construções mentais deletérias; silencia as diatribes sem as revidar; confia no futuro porque marcha inexoravelmete para ele...
Vive a fé que esposa e, de forma alguma duvida da divina interferência e magnanimidade do Pai, sempre e sem cessar.
Combate o bom combate do bem contra o mal e quando os fracos receiam, murmuram ou planejam afastar-se da luta, o homem que confia no futuro espiritual persevera, investe tudo, doa-se mais, mesmo que aparentemente a sós se lhe afigure uma loucura a perseverança e insistência nos propósitos superiores acalentados.
Isto porque ele tem certeza de que, embora abandonado pelos compares e afeiçoados, que ora têm outros interesses e pretendem seguir adiante, não está sozinho, nem tombará.
E, se porventura os resultados não corresponderem aos chamados triunfos humanos, ainda assim, rejubila-se em face da tranqüilidade que mantém quanto aos roteiros do Senhor, que nos permite escolher a parte que melhor apraz, demorando-se em paz por haver selecionado a melhor para si e para o meio onde foi chamado a servir e a crescer...
No futuro espiritual que o aguarda, o homem de fé nas realidades imortais do espírito eterno, tem consciência de que reencontrará aqueles que o não quiseram ou não puderam acompanhá-lo, que foram causas diretas ou não das suas aflições e sacrifícios, em condições, sem dúvida, onde não haverá lugar para equívocos nem deserções, sob a luz meridiana da consciência, livre dos anestésicos da leviandade e da ilusão.
Por tais e incontáveis outras razões, o espírita, cientificado e consciente do seu futuro espiritual, faz-se um verdadeiro cristão, um homem probo e bom a serviço do Cristo, na Terra, sem exigências nem petulâncias, seguro de que, simplesmente como servo que reconhece a própria pequenez, apenas cumpre o seu dever.
Livro: Terapêutica de Emergência.
Espíritos Diversos / Divaldo Franco.

Nenhum comentário:

Postar um comentário