sexta-feira, 15 de maio de 2015

Relacionamentos familiares - Joanna de Ângelis.

A família é o laboratório de vivências das mais expressivas de que necessita o ser humano, no seu processo de evolução, porquanto, no mesmo clã, os indivíduos são conhecidos, não podendo disfarçar os valores que os tipificam.
Aceitos ou repudiados por motivos que procedem de existências pretéritas, o grupo familial faculta o romper dos laços do egoísmo, a fim de que a solidariedade e a lídima fraternidade se desenvolvam efusivamente.
No recesso da família renascem os sentimentos de afinidade ou de rechaço que os Espíritos preservam de outros relacionamentos felizes ou desventurados em reencarnações transatas, refluindo consciente ou inconscientemente como necessidade de liberação dos conflitos, quando forem dessa natureza, ou intensificação da afetividade, que predispõe às manifestações mais significativas do amor além da esfera doméstica.
O élan que se estabelece no lar tem valor decisivo, muitas vezes, na conduta do indivíduo, onde quer que se encontre, tornando-o inibido, introvertido ou jovial, agradável como efeito das ocorrências do ninho doméstico.
Os Espíritos antipáticos entre si, quando se reencontram na família, unidos pela consangüinidade, expressam essa animosidade de muitas formas, o que gera transtornos cuja gravidade tem a dimensão dos problemas vivenciados.
Por outro lado, quando existe compreensão e fraternidade, os relacionamentos se fazem saudáveis e enriquecedores, ampliando os horizontes do afeto, que se expandem em todas as direções, qual rio generoso que se espraia em campo aberto, irrigando o solo e dando vida mais abundante por onde passa.
O relacionamento no lar constitui preparação para as conquistas da solidariedade com todos os seres, não apenas os humanos, porquanto o desenvolvimento dos valores intelecto- morais proporciona aspirações mais amplas que vão sendo conquistadas à medida que o individuo amplia a capacidade volitiva de amar. Essa volição propele-o à compreensão das dificuldades que os relacionamentos às vezes enfrentam.
Somente há legítimo relacionamento, que poderá ser considerado saudável, quando as pessoas ou os seres que intercambiam as expressões de afetividade ou de interesse comum, mesmo que discordando de idéias e posturas tomadas, agem em clima de agradável compreensão, ensejando o crescimento interior.
Nos relacionamentos agressivos, que em muitas ocasiões surgem no instituto da família, os opostos encontram-se em conflito recíproco, e sentindo-se impossibilitados de amar, reagem, uns contra os outros, deixando transparecer a presença dos sentimentos magoados.
Quando morre a emoção do amor, dando lugar à indiferença, é que se faz muito difícil o relacionamento, porque desaparecem as manifestações da vida pulsante e rica de aspirações.
Mede-se o desenvolvimento e a maturidade psicológica de uma pessoa, quando o seu relacionamento no lar é positivo, mesmo que enfrentando clima de hostilidade ou de indiferença, que o prepara emocionalmente para outros cometimentos na convivência social.
No abismo dos conflitos que se apresentam em muitas personalidades enfermiças, o medo de amar, a desconfiança por saberem-se não amadas, o receio de terem identificadas as sua facetas tormentosas, criam impedimentos a uma boa relação no lar, pórtico de sombras que passa a ser para os futuros envolvimentos na sociedade.
A postura taciturna, constrangida, silenciosa, quase hostil, se revela um recurso psicológico de defesa do Ego, para continuar no comando das reações mórbidas que se negam à terapia da renovação interior. E tudo quanto não se renova tende a desaparecer, a extinguir-se.
Representando a família a mais valiosa célula do organismo social, é nela que se encontram os Espíritos necessitados de entendimento, de intercâmbio de sentimentos e de experiências, de forma que o lar se faz sempre a escola na qual os hábitos irão definir todo o rumo existencial do ser humano.
O instinto gregário, que predomina no animal e se expande ao ser pensante, estimula o Ego ainda não doentio à preservação do clã, gerando apegos que constituem automático recurso de que se utiliza para a defesa dos seus... Os interesses gravitam em torno do grupo doméstico, desenvolvendo a capacidade interior de zelo e proteção, que será ampliada mais tarde para todo o grupo social onde se movimenta, e, naturalmente, para a humanidade que lhe é a grande e legítima família.
Por serem profundos e inevitáveis os relacionamentos domésticos, positivos ou não, apressam o desenvolvimento da afetividade que prepondera, quando negativos, em forma reagente, porém viva, e quando saudáveis, em mecanismos de evolução que apressa a lídima fraternidade.
No geral, as pessoas temem os relacionamentos mais sérios, porque não desejam ser magoadas, acreditando que não lograrão a compreensão nem o apoio de que necessitam, preferindo uma atitude de distância, o que tampouco as impede de experimentar outro qualquer tipo de constrangimento.
Tal atitude, inegavelmente conflitiva, resulta em tormento para quem assim se comporta, porque se sente expulso do contexto, não obstante essa atitude seja de eleição própria.
Não há crescimento psicológico sem o enfrentamento de problemas, sem o atrito das emoções, particularmente na área da afetividade que é campo novo para o ser, quando treina mais fortes e valiosas expressões de amor.
Quando, porém, alguém não consegue evitar os constrangimentos domésticos, porque outrem - aquele a quem desejaria ser simpático - se recusa à mudança de atitude hostil, é possível tornar o problema um valioso recurso para a prática de tolerância, tentando compreender a sua dificuldade, desculpando-o pelo estágio primário em que ainda permanece, mas tratando de não se deter no aparente impedimento, e crescendo sem amarras emocionais com a retaguarda.
E verdade que não se pode impor o amor, no entanto, não menos verdade é que a pretexto de amar, ninguém se deve deixar permanecer estacionado no obstáculo que defronta.
À medida que se cresce, mais soma de recursos se acumula para distendê-los àqueles que se encontram em faixas menos evoluídas, auxiliando-os com lúcida afeição fraternal.
Quando não vicejam sentimentos felizes na família – que se apresenta dispersiva ou sempre mal disposta, egoísta ou agressiva -, a melhor terapia para um bom relacionamento é aquela que não envolve as emoções, evitando-se dilacerações sentimentais, porquanto os menos equipados de grandeza moral são insensíveis às palavras e aos gestos de ternura, caracterizando-se pela forma brutal de comportamento.
Assim, então, cabe, a quem deseja o amadurecimento, a permanência no cultivo de pensamentos salutares, estimando as boas leituras e evitando as expressões chulas, tão do agrado dos Espíritos mais primitivos, preservar-se do nivelamento pela vulgaridade e assim exigindo o crescimento emocional e moral de quem lhe comparte a convivência.
Os relacionamentos familiares são particulares testes para a fraternidade, desde que o campo é fértil para as discussões, as agressões, as discrepâncias, mas também para a compreensão, a ajuda recíproca, o interesse comum, mediante cujas ocorrências, dá-se naturalmente a integração do ser na convivência social.
Quando alguém experimenta conflito no lar e não consegue superá-lo, o mesmo seguirá por onde fôr, porquanto, sendo de natureza interior, necessita ser diluído antes que superado.
A fornalha mais preciosa para o amoldamento do caráter e da personalidade é o lar. Quando esse falta, deixando o ser em formação em mãos estranhas ou ao abandono, o sofrimento marca-lhe o desenvolvimento psicológico, que passa a exigir terapia de amor muito bem direcionada, evitando-se os apelos de compaixão, de proteção injustificada, para se tornar natural, franco, encorajador, e que faculte a compreensão do educando sobre o fenômeno que lhe aconteceu, mas em realidade não lhe pode afetar a existência, desde que se trata de uma ocorrência proposta pelas Leis naturais da Vida.
O ser humano, em qualquer fase do seu desenvolvimento na Escola terrestre, é sempre aprendiz sensível a quem o amor oferece os mais poderosos recursos para a felicidade ou para a desdita, dependendo de como esse seja encaminhado.
O lar, desse modo, é oficina de crescimento moral e intelectual, mas sobretudo espiritual, que deve ser aprimorado sempre, abrindo espaço para tornar-se célula eficiente da sociedade.
Livro: O Despertar do Espírito.
Joanna de Ângelis / Divaldo Franco.

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