quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Porta de luz – Manoel P. de Miranda.

 Imagine um dédalo em sombras, imensurável, hórrido, onde se demoram emanações morbíficas provenientes de células em disjunção; charco miasmático carregado de lodo instável, tendo por céu nimbos borrascosos sacudidos por descargas elétricas; paul sombrio que agasalha batráquios e ofídios, répteis e toda a fauna asquerosa; região varrida por ventos ululantes, longe da esperança onde uma tênue e célere perspectiva de paz não tremelha...
Considere-se relegado a esse labirinto nefasto, longe de qualquer amparo, a mergulhar a mente em febre nos abismos do remorso que, fantasma incansável, assume proporçôes inimagináveis; sob o estrugir de recordações vigorosas das quais não se consegue furtar, ressumando erros propositais e casuais com que se distanciou da paz; malgrado necessite de esperança ou refazimento, silêncio para meditar ou uma aragem fresca para renovação, escute, inerme, outros companheiros de desdita em imprecaçôes e lamentos, dominados pela própria sandice; onde a razão se fez sicário impiedoso, sem entranhas, e se encarrega, ela mesma, de justiçar com azorragues em forma de cilícios que lhe são involuntários; sem equilíbrio para uma evocação suave, um painel de ternura, amor ou prece...
Avalie o significado de uma porta libertadora, que subitamente se abrisse, convidativa, banhada que fosse de fraca mas significativa luz, através da qual, transposta a mínima distância entre você e ela, poderia ouvir consolo, chorar sem desespero, lenindo as próprias angústias, e repousar; além da qual, doce canto embalante ciciasse uma melopeia conhecida ou uma berceuse reconfortante; após vencida, revisse paisagem esquecida e agradável e, dilatados os ouvidos, escutasse a pronúncia de um terno nome, em relação a você: irmão! — depois do que, roteiro e medicamento chegassem salvadores, inaugurando experiência feliz, transpassada a expiação inominável...
Você bendiria, certamente, mil vezes, esse portal de acesso.
Tal região, não muito longe de nós, entre os desencarnados e os encarnados, são os vales purgatoriais para os que transpõem o umbral da morte narcotizados pela insânia e pelo crime.
Tal porta fascinante é a mediunidade socorrista de que você se encontra investido na tessitura física, ao alcance de um pouco de disciplina e abnegação.
Examinando quanto você gostaria de receber auxílio se ali estivesse, pense nos que lá estão e não demore mais em discussões inócuas ou em desculpismo injustificável.
Corra ao socorro deles, os nossos companheiros na dor, iludidos em si mesmos, e abra-lhes a porta de luz da oportunidade consoladora.
Mergulhe o pensamento nos exórdios do amor do Cristo e, mesmo sofrendo, atenda a estes que sofrem mais.
Não lhe perguntarão quem você é, donde vem, como se apresenta, pois não lhes importa; antes, sim, desejarão saber o que você tem em nome de Jesus para lhes dar. Compreenderão mais tarde a excelência da sua fé, o valor do seu devotamento, a expressão da sua bondade, a extensão das suas necessidades e também estenderão braços na direção do seu espírito.
Agora, necessitam de paz e libertação, e Jesus precisa de você para tal mister. Não lhes atrase o socorro, nem demore sua doação. Possivelmente você já esteve ali antes, talvez seja necessário estagiar por lá...
Se você conceber que o seu esforço é muito, para os ajudar, mentalize Jesus transferindo-se dos Cimos da Vida para demorar-se no Vale de Sombras por vários anos e prosseguir até agora conosco...
O Espiritismo que lhe corrige a mediunidade em nome do Cristo — Espiritismo que lhe consola e esclarece — ensina-lhe que felicidade é moeda cujo sonido somente produz festa íntima quando retorna daquele a quem se oferece e vem na direção do doador.
Doando-se, em silêncio, longe dos que aplaudem faculdades mediúnicas, coloque suas possibilidades a benefício dos sofredores, nas sessões especializadas, e granjeará um crédito de bênçãos que lhe ensejará, também, liberdade e iluminação, à semelhança dAquele que, Médium do Pai, se fez o doce irmão de nós todos, milênios a fora.
Livro: Nos Bastidores da Obsessão.
Manoel Philomeno de Miranda / Divaldo Franco.

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