quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Céu – Martins Peralva.

Não vem o Reino de Deus com visível aparência
São inconciliáveis os conceitos doutrinários de Céu, aceitos e esposados pelo Espiritismo, com os pregados e afirmados por algumas religiões.
Para essas religiões, o Céu  é, também, à maneira do inferno, um lugar  determinado, circunscrito, delimitado.
Uma zona geográfica, na Espiritualidade, onde a beatitude e a contemplação nos falam de um Deus comodista, para não dizer preguiçoso.
Tal conceito teológico de Céu, como se vê, é tão absurdo e inaceitável quanto o de inferno.
Entidades angélicas, ao som de harpas dolentes, distraindo aqueles que tiveram meios e recursos para receber na Terra, de mãos nem sempre puras, um passaporte para as regiões imaculadas do Infinito. . .
Realmente não se pode dizer que tal ambiente, com anjos, música e claridades, seja desagradável; mas ninguém lhe pode negar, também, a monotonia, a sonolência, a algidez, a prejudicialidade.
É tão impossível, no presente século, crer no sofrimento eterno, nas labaredas que se não extinguem, como crer na felicidade inoperante, sem dinamismo e sem fim, num Céu onde não haja trabalho e renovação.
O Espiritismo aceita e prega uma definição ativa do Céu, compatível, aliás, com a lei evolutiva que rege todos os fenômenos da Vida. O Céu, para os Espíritas, é também um estado consciencial.
Um estado consciencial superior, refletindo o clima psíquico, a realidade mental de quem passou pelo mundo fazendo o bem.
Não seria justo, nem lógico, nem racional, que o indivíduo que se moralizou, se dignificou  no trabalho, se engrandeceu, moral e espiritualmente, tenha como prêmio, depois da morte do corpo, a pior coisa do mundo, o mais triste castigo que se pode infligir a um ser humano: NÃO FAZER NADA! 
Ouvir, simplesmente, suavidades musicais. . .
Deleitar­se, apenas, com a beatífica visão de um Céu parado, sem luta e sem esforço, de um Céu sem realização e sem trabalho. O Espiritismo ensina que há incontáveis regiões no Universo inteiro — e não apenas em certos pontos geográficos —  onde almas elevadíssimas se congregam pela harmonia de sentimentos, construindo assim, elas mesmas, transcendentes mundos de transcendente felicidade, verdadeiros céus, zonas inacessíveis às almas impuras (até que se aperfeiçoem), onde a Vontade de Deus, através de Jesus, distribui missões grandiosas, visando ao progresso das Humanidades.
“Rezam as tradições do mundo espiritual que na direção de todos os fenômenos, do nosso sistema, existe uma Comunidade de Espíritos Puros e Eleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se conservam as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias” —  escreve Emmanuel, em A CAMINHO DA LUZ.
Essas zonas não se destinam a “A, B ou C”, mas a todas as criaturas de Deus — espíritas, católicos ou  protestantes —  desde que se redimam, que se afeiçoem, em definitivo, ao Cristo, desde que se integrem no programa evangélico da virtude e do conhecimento, da renovação e do  trabalho.
Todos nós viveremos, um dia, nessas regiões, quando o superior estado de nossas consciências assim o permitir.
Todos conheceremos, mais tarde, essa plenitude divina. O progresso abrange a universalidade dos seres. Os tiranos do mundo, os criminosos de todos os matizes, os infelizes de toda espécie, as prostitutas, os ateus e materialistas —  todos alcançarão, um dia, as celestes bem­aventuranças.
O Pai não deserda nenhum dos Seus filhos.
“Nenhuma das ovelhas que o Pai me confiou se perderá” — assegurou Jesus com a doce autoridade de Sua grandeza. As almas infernalizadas de hoje serão amanhã as almas sublimadas pelo Amor e pela
Sabedoria, porque a Evolução é lei impessoal, adogmática, assectária.
A Evolução abrange, universalmente, todos os seres. O homem pode retardar o cumprimento dessa Lei por algum tempo — anos e séculos. Um dia, porém, quando se abrir na sua consciência uma pequena brecha, por menor que seja, a força dessa lei impulsiona­lo­á, irresistivelmente, para o  Alto Destino que lhe está reservado.
Livro: Estudando O Evangelho.
Martins Peralva.

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