domingo, 16 de março de 2014

A ambição – Rodolfo Calligaris

A ambição é um impulso natural que, até certo ponto, nada tem de censurável, constituindo-s, mesmo, num elemento indispensável ao progresso individual e social.
De fato, é pelo desejo de prosperar e sobressair que os homens são estimulados ao estudo e ao trabalho, atividades essas que lhes desenvolvem cada vez mais as faculdades intelectuais e volitivas, resultando daí reais benefícios para a coletividade.
Fossemos todos apáticos, indiferentes, e nossa civilização estaria ainda na estaca zero.
A ambição deixa, todavia, de ser um bem, e assume a feição de vício detestável, quando excede determinados limites, caindo no exagero. Em outras palavras, quando, ao invés de ser governada por nós, passa a nos governar.
Desde o instante em que isso acontece, nossas ações tornam-se perigosas e prejudiciais, não só para nós próprios como também para aqueles que cruzam pelo nosso caminho, pois todos os recursos nos parecerão bons, contando que sirvam para conduzir-nos aos objetivos que colimamos.
Que de sofrimentos e quantas lágrimas são derramadas por este mundo afora, por causa da ambição desenfreada.
Uns colocando o interesse acima do coração, uniram indissoluvelmente seus destinos a outrem, certos de que a riqueza lhes proporcionaria todas as venturas imagináveis; convencendo-se, posteriormente, de que ninguém pode viver feliz sem amor, colheram terrível desilusão que lhes amargurou o resto da existência.
Outros, ávidos de uma situação melhor, deixaram o meio em que, embora com parcimônia, tinham garantidos, o sustento e a estabilidade da família; não se achavam, entretanto, suficientemente preparados para mudarem de serviço e, de fracasso em fracasso, reduziram-se à indigência.
Alguns, sonhando com as vantagens deste ou daquele cargo eletivo, se empenharam em campanhas eleitorais altamente dispendiosas, investindo nelas tudo quanto conseguiram economizar em longos anos de trabalho e nada conseguindo, arruinaram-se.
Aqueles outros, cujos negócios corriam satisfatoriamente, na ânsia de se locupletarem a curto prazo, assumiram compromissos ousados demais, superiores às condições de solvabilidade com que poderiam contar seguramente, e, seja porque fatores imprevisíveis houvessem interferido para lhes frustrar as previsões, seja à bancarrota, arrastando em sua queda amigos e parentes que neles confiaram.
Uma das manobras de que a ambição mais tem valido para testar ganho fácil, sem esforço é a jogatina.
Joga-se nos cassinos, nos clubes, nos hipódromos, nos botequins, nas ruas e até em residências familiares.
Apostas, lances e sorteios são feitos sob as mais variadas formas: em brigas de galos, lutas de Box, páreos turfísicos, corridas de automóveis, competições esportivas, carteados, dados, tômbolas, loterias, roletas e não sabemos mais o que, além de jogos disfarçados, como os carnês de certas empresas comerciais, as rifas, etc.
A melhor coisa que nos pode acontecer quando, por brincadeira ou simples curiosidade, participamos de uma mesa de jogo, é perder na primeira vez, porque assim nos desiludimos logo e não voltaremos a arriscar dinheiro em tão nefasto passatempo.
Se, porém, tivermos “sorte”, dificilmente resistiremos à tentação de renovar as partidas e paradas, na esperança de aumentar o lucro, e uma vez adquirido o vício, todos sabem a que extremos poderemos chegar.
Ganhando hoje, perdendo muito mais amanhã, o infeliz  jogador tudo sacrifica na tentativa de recuperar o prejuízo; a última jóia, o salário destinado à mantença do lar, o numerário da firma para a qual trabalha, eventualmente sob sua guarda... Depois, empenha a palavra, contrai empréstimos que é incapaz de resgatar e, vendo-se perdido, não vê outra saída senão apelar covardemente para o suicídio, enchendo a família de dor e de vergonha, sem falar no martírio a que esse gesto de loucura o lança no mundo espiritual.
Estejamos alerta, portanto, contra os perigos da ambição.
Dominemo-la, para que ela não nos domine!
Livro: Páginas do Espiritismo Cristão.
Rodolfo Calligaris.

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