sábado, 15 de junho de 2013

CARGA ERÓTICA

 
Dois sistemas se defrontam: o dos ascetas, que tem por  base  o  aniquilamento  do  corpo,  e  o  dos  materialistas,  que  se  baseia  no  rebaixamento  da  alma. 
Duas  violências  quase  tão insensatas  uma  quanto  a  outra.  Ao  lado  desses  dois  grandes  partidos,  formiga  a  numerosa  tribo  dos  indiferentes que, sem convicção e sem paixão, são mornos no amar e econômicos no gozar. 
Onde, então, a sabedoria? Onde, então, a ciência de viver? 
Em  parte  alguma;  e  o  grande  problema  ficaria  sem  solução,  se  o Espiritismo não viesse em auxílio dos pesquisadores, demonstrando-­lhes as relações que existem entre o corpo e a alma e dizendo­lhes que, por serem necessários uma ao outro, importa cuidar de ambos. Amai, pois, a vossa alma, porém, cuidai igualmente do vosso corpo, instrumento daquela. 
Desatender  às  necessidades  que  a  própria  Natureza  indica,  é  desatender a lei de Deus. Não castigueis o corpo pelas faltas que o vosso livre arbítrio o induziu a cometer e pelas quais é ele tão responsável quanto  o  cavalo, mal  dirigido,  pelos  acidentes  que  causa.  Sereis,  porventura,  mais perfeitos se, martirizando o corpo, não vos tornardes menos egoístas, nem menos orgulhosos  e mais caritativos para com o vosso próximo? Não,  a  perfeição  não  está  nisso,  está  toda  nas  formas  por  que fizerdes  passar  o vosso Espírito.  Dobrai­o, submetei­o,  humilhai­o,  mortificai­o: esse o meio de o tornardes dócil à vontade de Deus e o único de alcançardes a perfeição.
O instinto sexual, exprimindo amor em expansão incessante, nasce nas profundezas da vida, orientando os processos da evolução. Toda criatura consciente traz consigo, devidamente estratificada, a herança incomensurável das experiências sexuais, vividas nos reinos inferiores da Natureza.
De existência a existência, de lição em lição e de passo em passo, por séculos de séculos, na esfera animal, a individualidade, erguida à razão, surpreende em si mesma todo um mundo de impulsos genésicos por educar e ajustar às leis superiores que governam a vida.
A princípio, exposto aos lances adversos das aventuras poligâmicas, o homem avança, de ensinamento a ensinamento, para a sua própria instalação na monogamia, reconhecendo a necessidade de segurança e equilíbrio, em matéria de amor; no  entanto, ainda aí, é impelido naturalmente a carregar o fardo dos estímulos sexuais, muita vez destrambelhados, que lhe enxameiam no  sentimento, reclamando  educação e sublimação.
Depreende­se disso que toda criatura na Terra transporta em si mesma determinada taxa de carga erótica, de que, em verdade, não se libertará unicamente ao preço de palavras e votos brilhantes, mas à custa de experiência e trabalho, de vez que instintos e paixões são energias e estados inerentes à alma de cada um, que as leis da Criação não destroem e sim auxiliam cada pessoa a transformar e elevar, no rumo da perfeição.
Fácil entender, portanto, que do  erotismo, como fator de magnetismo sexual humano, na romagem terrestre, seja em se tratando de Espíritos encarnados ou desencarnados na Comunidade Planetária, não partilham tão ­somente as inteligências que já se angelizaram, em minoria absoluta no Plano Físico, e aqueles irmãos da Humanidade provisoriamente internados nas celas da idiotia, por  força de lides expiatórias abraçadas ou requisitadas por eles próprios, antes do  berço terreno.
Os Espíritos sublimados se atraem uns aos outros por laços de amor considerado divino, por enquanto inabordáveis a nós outros, seres em laboriosa escalada evolutiva e que compartilhamos das tendências e aspirações, dificuldades e provas do  gênero  humano.
E os companheiros temporariamente bloqueados por cérebros deficientes e obtusos atravessam períodos mais ou  menos longos de silêncio  emocionados, destinados a reparações e reajustes, quase sempre solicitados por eles mesmos – repetimos –, já que se sentenciam a entraves e inibições, no campo de exteriorização  da mente, através dos quais refazem atitudes e recondicionam impulsos afetivos em preciosas tomadas e retomadas de consciência.
À vista do exposto, é fácil reconhecer que toda criatura humana, sempre nascida ou renascida sob o patrocínio  do  sexo, carreia consigo determinada carga de impulsos eróticos, que a própria criatura aprende, gradativamente, a orientar para o bem e a valorizar para a vida.
Diante do sexo, não nos achamos, de nenhum modo, à frente de um despenhadeiro  para as trevas, mas perante a fonte viva das energias em que a Sabedoria do  Universo situou o laboratório das formas físicas e a usina dos estímulos espirituais mais intensos para a execução das tarefas que esposamos, em regime de colaboração  mútua, visando ao rendimento do progresso e do aperfeiçoamento entre os homens.
Cada homem e cada mulher que ainda não se angelizou  ou  que não se encontre em processo de bloqueio das possibilidades criativas, no corpo ou na alma, traz, evidentemente, maior ou  menor percentagem de anseios sexuais, a se expressarem por sede de apoio  afetivo, e é claramente, nas lavras da experiência, errando e acertando e tornando a errar para acertar com mais segurança, que cada um de nós –  os filhos de Deus em evolução na Terra –  conseguirá sublimar os sentimentos que nos são próprios, de modo a erguer­nos em definitivo para a conquista da felicidade celeste e do Amor Universal.
Livro: Vida e Sexo.
Emmnuel / Chico Xavier.

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