quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

EM REVERÊNCIA

Ei-­la cansada, com o peito ofegante e o andar em desalinho, que passa...
O tempo sulcou­lhe a face, apergaminhando­a, deixando em cada ruga um sofrimento, uma decepção, uma amargura.
Quem a vê não é capaz de avaliar  as lutas que travou  com estoicismo  demorado.
Talvez tenha vendido o corpo para que o pão  minguado  não faltasse totalmente em casa, ou  a gota de leite nutriente não  fosse negado ao  filho, que sustentou com abnegação e devotamento.
Possivelmente, quando percebeu  a presença do gérmen da vida movimentando­se na intimidade do ventre e cantou a notícia aos ouvidos do amor  que a fecundou, foi convidada a extirpá­lo e preferiu  a rota da soledade, do  abandono, ao infanticídio...
Quem sabe os demorados travos de amargura que lhe tisnaram os lábios e os silêncios que foram sufocados no coração, a fim de que, misturando as suas com as lágrimas do filho, não o deixasse sofrer em demasia?...
Há, sim, muitas mães que se transformaram em hienas desapiedadas. Outras se fizeram indiferentes ao sublime cometimento maternal, deixando  os filhos a esmo. Muitas, incontáveis, fizeram­no vitimadas pela miséria, pela ignorância, pelo desespero... E são, no entanto, exceção.
Um sem número de jovens traídas no sonho de felicidade a que se deixaram arrastar, santificaram as horas mais tarde sustentando o filhinho nos braços como o  mais precioso tesouro que jamais ambicionaram.
Desde a hora em que lhes sorriu o pedacinho daquela vida, parte da sua vida, elas se esqueceram de si mesmas e empenharam­se com sofreguidão a protegê­ lo, acalentando, talvez, a ambição de receberem um amparo mais tarde para si mesmas, não obstante amparando em regime integral de proteção e defesa o filhinho  que sustinham nos braços...
Há, também, os filhos ingratos, que se transformaram em abutres que sobrevoam o quase cadáver de quem lhes ofertou o vaso orgânico...
Também os há que se converteram em regaço de luz e em aroma de benignidade, em santa devoção, tentando retribuir...
Mães — estrelas da Vida, multiplicando vidas! 
Filhos — gemas brutas a serem trabalhadas para as fulgurações estelares!
Muitos corpos não geraram outros corpos, no entanto fizeram­se mães da dedicação em nome do amor de Nosso Pai, sustentando essas vidas que não se estiolaram porque elas tomaram a si o ministério de socorrê­las e ampará­las.
São as mães da abnegação e do sofrimento...
Em singela manjedoura, um dia, uma mulher sublime fez­se Mãe Santíssima e depois de uma cruz de infâmia transformou­se na mãe­modelo de todas as mães, simultaneamente mãe de todos nós.
Quando as criaturas da Terra evocam para homenagear a própria genitora, Maria, a Santíssima, roga ao Filho Celeste que abençoe a Humanidade, especialmente as mães, no momento em que, ultrajada e sofrida, a maternidade é considerada punição e desgraça pelas mulheres e pelos homens que passam enlouquecidos na direção do desespero...
“Honrai a vosso pai e a vossa mãe”. Jesus / Lucas, 18:20. 
“Honrar a seu pai e a sua mãe não consiste apenas em respeitá-los; e também assisti-los na necessidade; é proporcionar-lhes repouso na velhice; é cercá-los de cuidados como eles fizeram conosco na infância.”(O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec, Cap. XIV – item 3 : 2).
Livro: Florações Evangélicas.
Espírito: Joanna de Angelis
Médium: Divaldo Franco.

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