sábado, 5 de janeiro de 2013

Perda I - Hammed

Não admitimos que podem coexistir entre amigos sentimentos ambivalentes como: admiração e inveja, estima e competição, afeição e orgulho.
O ilustre romano Cícero, em seus célebres ensaios literários sobre a amizade, registrou a seguinte pergunta: “Haverá alguma coisa mais doce do que teres alguém com quem possas falar de todas as tuas coisas, como se falasses contigo mesmo?”
Realmente, não há pior solidão do que a do homem sem amigos. A falta de amizade faz com que seu mundo de afetividade se transforme em um enorme “deserto interior”.
Entre amigos não existe nenhum limite às confidências, pois a virtude principal que os une é a sinceridade. Para que tenhamos maior compreensão sobre a amizade, é necessário analisarmos as profundezas da intimidade humana.
“A Natureza deu ao homem a necessidade de amar e de ser amado. Um dos maiores gozos que lhe são concedidos na Terra é o de encontrar corações que com o seu simpatizem...” - (Livro dos Espíritos – Allan Kardec, questão 938 e 938-a)
Portanto, a criatura não deve “endurecer o coração e fechá-lo à sensibilidade”, se receber ingratidão de seus amigos. Isso seria um erro, “... porquanto o homem de coração (...) se sente sempre feliz pelo bem que faz. Sabe que, se esse bem for esquecido nesta vida, será lembrado em outra...” - (Livro dos Espíritos – Allan Kardec, questão 938 e 938-a)
De certo modo, temos por crença que amigos leais são somente os que compartilham os mesmos gostos, tendências, entusiasmos e ideais; que devem estar sempre à nossa disposição,concordar com tudo o que pensamos e de que precisamos e que jamais devem ter sentimentos contraditórios.
Se realmente alimentarmos essa crença de que os amigos verdadeiros são aqueles que se modelam ao nosso perfeito “idealismo mítico”, isto é, relacionamentos estruturados em “castelos no ar”, poderemos estar vivendo, fundamentalmente, sob uma consistência irreal a respeito de amizade.
O crescimento de nossas relações com os semelhantes depende da nossa habilidade em não ultrapassar as possibilidades limitativas de cada um e de obtermos uma compreensão das restrições da liberdade e disponibilidade dos amigos, ficando quase sempre atentos às conexões que fazemos com nossos devaneios emocionais.
De modo geral, não admitimos que podem coexistir entre amigos sentimentos ambivalentes como: admiração e inveja, estima e competição, afeição e orgulho. As emoções radicalmente diferentes, ou mesmo opostas, são inatas nas criaturas humanas no estágio evolutivo em que se encontram.
Muitos tiveram uma educação fantasiosa do tipo “e viveram felizes para sempre” e, quando se deparam com a realidade humana, ficam profundamente chocados por constatar que possuem ambivalência de sentimentos, identificando-os também, analogamente, nas figuras mais importantes de sua vida.
Todo ser na Terra está aprendendo a usar coerentemente seus sentimentos e emoções. Não podemos fugir dessa verdade. Nossa visão interior precisa mover-se como um pêndulo, a fim de evitarmos unilateralidades que nos impedem de ver o todo. Sabedoria traduz-se na capacidade de reconhecer, ou na habilidade de ver a totalidade da vida em seu completo equilíbrio. Viver na polaridade não nos deixa entender as diversidades de sentimentos e emoções que vivenciamos. Precisamos adquirir uma percepção intuitiva, para não analisarmos tudo como sendo absoluto. Toda avaliação correta usa de critérios com certa relatividade e prende-se às circunstâncias do momento e não, exclusivamente, aos fatos em si.
Essa dualidade de opostos irreconciliáveis entre certo-errado nos embrenha cada vez mais na polaridade, impedindo-nos de compreender que cada parte contém o todo. Somos unos com a Vida. Estamos ligados de forma integrante às pessoas e a todas as outras formas de vida do Universo. Exemplificando isso, Jesus Cristo realçou: “Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.” (Jesus / Mateus 25:40)
O que deve ter feito mais tarde com que Paulo de Tarso escrevesse aos Coríntios: “Ora, pecando assim contra os irmãos e ferindo a sua fraca consciência, pecais contra Cristo.” (Coríntios 8:12).
“O homem de coração, que se sente sempre feliz com o bem que faz”, sabe que todas as experiências que vivenciamos uns com os outros são peças importantes no processo de crescimento espiritual. Sabe que não basta simplesmente ignorar as ingratidões alheias, ou não guardar eternos ressentimentos; deve também avaliar e aprender com seu próprio sentimento de perda ou de abandono.
“O homem de coração” entende perfeitamente que, com as experiências que mantém com os amigos atuais ou que manteve com os amigos que se foram, pode oferecer importantes conexões para ampliar os horizontes do autoconhecimento. A partir daí, tem condições de discernir a variedade de categorias de amigos.
Há amigos de “atividades habituais”: possuem uma convivência restrita, reúnem-se somente para cultos religiosos, em dias de lazer e de esportes, nas horas de trabalho, ou em cursos ou eventos diversos. Outros existem, qualificados como amigos, por “vantagens recíprocas”. São unidos pelas profissões que exercem, promovem sociedades de interesse comum e com metas especiais, desempenhando papéis e ofícios especializados juntos; mas não juntos interiormente.
Os denominados amigos de “décadas diferentes” são todos aqueles ligados por enormes afinidades das vidas passadas, que nem mesmo a grande diferença de idade consegue separá-los da convivência diária. Adquirem uma intimidade carinhosa e verdadeira, que enseja a permuta de experiências, de vigor e de ânimo. Outra categoria a ser considerada é a dos chamados amigos “itinerantes” ou “transitórios”. Cruzam nossas vidas durante determinada etapa. Compartilham nossa amizade em épocas cruciais; outras vezes, em busca de aprendizagem, passam por nós nas encruzilhadas do caminho terreno, para depois se desligarem, porque se desvaneceram os elos comuns que os mantinham conosco. No decorrer do tempo, cada um deles segue o caminho que traçou rumo ao próprio destino.
Os reconhecidos, porém, como amigos “íntimos” ou “permanentes” são aqueles que possuem afeto mútuo e o conservam indefinidamente. A intimidade entre eles faz com que tenham um crescente amadurecimento espiritual. Alargam seu mundo interior à medida que aumentam a capacidade de compreender as similaridades e as diferenças entre si mesmos.
Em verdade, para se possuir real intimidade e adquirir plena confiança entre amigos é necessário nunca esconder o que há de desagradável em nós; em outras palavras, é preciso revelar nossa falibilidade. Querer demonstrar caráter impecável e isenção de dúvidas é característica de indivíduos incapazes de perdoar e inábeis para manter relações duradouras e afetividade verdadeira.
Em síntese, a perda de amigos representa momentos difíceis e dolorosos. As dores da alma em relação às amizades não são propriamente dificuldades desta época; já eram no passado distante motivo de admoestações e de conselhos. No Livro do Eclesiástico, encontramos registrada a seguinte orientação: “Não abandones um velho amigo, visto que o novo não é igual a ele. Vinho novo, amigo novo; deixa-o envelhecer, e o beberás com prazer.” (Eclesiástico 9:10).
Livro: As Dores da Alma.
Hammed / Francisco do Espírito Santo Neto.
Estudando O Livro dos Espíritos – Allan Kardec.
Decepções. Ingratidão. Afeições destruídas
938. As decepções oriundas da ingratidão não serão de molde a endurecer o coração e a fechá-lo à sensibilidade?
Resposta: Fora um erro, porquanto o homem de coração, como dizes, se sente sempre feliz pelo bem que faz. Sabe que, se esse bem for esquecido nesta vida, será lembrado em outra e que o ingrato se envergonhará e terá remorsos da sua ingratidão.
938a) - Mas, isso não impede que se lhe ulcere o coração. Ora, daí não poderá nascer-lhe a idéia de que seria mais feliz, se fosse menos sensível?
Resposta: Pode, se preferir a felicidade do egoísta. Triste felicidade essa! Saiba, pois, que os amigos ingratos que os abandonam não são dignos de sua amizade e que se enganou a respeito deles. Assim sendo, não há de que lamentar o tê-los perdido. Mais tarde achará outros, que saberão compreendê-lo melhor. Lastimai os que usam para convosco de um procedimento que não tenhais merecido, pois bem triste se lhes apresentará o reverso da medalha. Não vos aflijais, porém, com isso: será o meio de vos colocardes acima deles.
A.K.: A Natureza deu ao homem a necessidade de amar e de ser amado. Um dos maiores gozos que lhe são concedidos na Terra é o de encontrar corações que com o seu simpatizem. Dá-lhe ela, assim, as primícias da felicidade que o aguarda no mundo dos Espíritos perfeitos, onde tudo é amor e benignidade. Desse gozo está excluído o egoísta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário