domingo, 25 de novembro de 2012

Crescimento, não Martírio – Hammed


 “Não olvideis que o objetivo essencial, exclusivo, do Espiritismo é o vosso adiantamento, e é para alcança-lo que é permitido aos Espíritos vos iniciar quanto à vida futura, vos oferecendo exemplos que podeis aproveitar. Quanto mais vos identificardes com o mundo que vos espera, menos lamentareis aquele em que estais agora. Esse é, em suma, o objetivo atual da revelação.”  (Livro dos Médiuns – Allan Kardec, 2ª parte – Cap. XXVI, item 292 – 22º).
O termo arquétipo se origina do grego e quer dizer “o que é impresso desde de o início”. Ainda na antiguidade, passou a significar também as “formas imateriais” ou o “mundo das ideias”, na concepção de Platão.
Carl Gustavo Jung denominava de “arquétipos” as imagens primordiais, definindo-os como matizes sem conteúdo próprio que servem para estruturar ou dirigir o material psicológico – elementos organizadores, modelos ou formas universais – profundamente gravado no inconsciente coletivo de toda criatura humana. O “arquétipo” pode ser exemplificado como uma espécie de canal seco escavado por um curso d’água, o qual, à medida que o leito comece a ser novamente banhado, organiza e modela inteiramente as características do rio. São condutores ou orientadores do comportamento e das atividades mentais.
Os “arquétipos” se firmam no inconsciente, só surgindo no consciente através de figuras, de representações ou de sonhos, como conteúdos arquetípicos. Manifestam-se como estruturas psíquicas universais, inatas (não aprendidas), com possibilidades de reproduzir ideias semelhantes nas criaturas humanas; por isso, aparecem coletivamente, de forma simbólica, na literatura, nas artes e nos mitos de todos os povos.
A expressão inconsciente coletivo, segundo o conceito junguiano, é uma herança psicológica, um tipo de memória da raça ou da espécie, onde se encontram conteúdos de estruturas psíquica, padrões universais ou arquétipos existentes na intimidade de todos os serem humanos.
Essas ideias de Jung muitos se afinam com certas conceituações da Doutrina Espírita. Por exemplo: o Espírito, ao reencarnar , traz consigo valores, conhecimentos e experiências acumuladas através da noite dos tempos. Nasce equipado com um arcabouço psicológico – repertório de estruturas mentais em formas de vocações, tendências, sentimentos e ideais -, que, em contato com o meio ambiente da atual encarnação, se manifesta espontaneamente, sem que criatura se aperceba, aparecendo até mesmo nas situações mais corriqueiras do seu mundo diário.
A noção espírita das “vidas sucessivas” considera que toda cirança, no instante do nascimento, traz em si conteúdos psicológicos em potencial. O ambiente e as pessoas com quem e onde ela convive só podem aprimorá-la, não determinando integralmente seu jeito de ser, agir e pensar. Na criança apenas desperta o que já existia nela, ou seja, seus arquivos da alma, armazenados no corpo perispiritual. O Espírito encarnado veste uma roupagem – sua personalidade atual – e vivencia diversas personalidade, interpretadas no “teatro da vida”, palco das múltiplas existências.
Não obstante encontrarmos uma ampla variedade de “arquétipos”, classificados por Jung e sucessivamente por seus discípulos, analisaremos, aqui, o “arquétipo do herói”, encontrado nos clássicos, nos dramas, nas poesias e nos livros sagrados das mais antigas culturas, em forma de lendas e de epopeias mitológicas. No entanto é importante ressaltar que as características pessoais da personalidade humana apresentam alterações naturais e compreensíveis nas configurações dos “arquétipos”, devido ao grau evolutivo ou ao padrão psicológico em que estagia.
Quem tem um “herói” dentro de si tem igualmente um outro lado, um “mártir”. As pessoas em cuja existência predomina o “arquétipo do herói” vivem heroicamente estressadas. Caminham com a fronte projetada de forma imponente e o corpo (guerreiro) inclinado pra frente como se estivessem sempre prontas para lutar. Exigem perfeição de si mesmas e daqueles que estão a sua volta. Não expressam sua verdadeira realidade, ou seja, não querem ser ou não querem viver como são – seres humanos. Inconscientemente, acreditam que são super-humanos. Rejeitam o processo natural que nos impôs o Criador: Viver a normalidade da natureza humana.
Em contrapartida, a recíproca é verdadeira. A criatura que vive de modo intenso numa estrutura mental de “herói” irá gerar, consequentemente, uma estrutura oposta – o culto à dor e ao martírio. Essas estruturas se interagem. Ora a personalidade está numa crise de “heroica bravura”, ora na crise de “sofredora impotente”.
Ao longo dos tempos, muitos de nós desenvolvemos a crença de que nos privando das alegrias da vida, cultuando o sofrimento, não cuidando de nós mesmos, sendo austeros e mártires, desempenharíamos bem a nossa missão terrena e, como resultado, estaríamos cumprindo nossa tarefa mediúnica.
Não à glória em sofrer por sofrer! Não existe nenhuma recompensa em cultuar a dor; na verdade , não estamos aqui para mostrar como temos sido padecentes, mas sim para aprendermos como cessar as amarguras que nos afligem, como crescermos espiritualmente, como superarmos nossos pontos fracos e como recuperarmo-nos dos equívocos, prosseguindo no cultivo do progresso interior, com tranquilidade e satisfação de viver.
“Não olvideis que o objetivo essencial, exclusivo, do Espiritismo é o vosso adiantamento, e é para alcançá-lo que é permitido aos Espíritos vos iniciar quanto à vida futura (...)”
É importante observarmos que, segundo os Guias da Humanidade, a principal finalidade da manifestação dos Espíritos é o nosso adiantamento: em virtude disso, “ser médium” tem como ponto fundamental e indispensável a edificação do Reinos dos Céus dentro de nós mesmos. Portanto, ser médium não é necessário ser herói nem mártir, mas simplesmente cultivar o mundo interior – a melhoria pessoal. “(...) Esse é, sem suma, o objetivo atual da revelação.”
Os seres humanos são pluridimensionais, guardando no reino interior características comuns a todos, representadas pelos subprodutos do conjunto dos “arquétipos” presente em sua estrutura psíquica.
Sensitivos ou não, todos temos matrizes ou imagens de heróis ou de mártires profundamente arraigadas em nossa intimidade. A mentalidade heroica é um mito elitista, que tem como principio a personificação de que certas pessoas nasceram privilegiadas e para ser servidas.
Enquanto o “idela martirizante” modela as pessoas para o sacrifício e para uma abnegação exagerada para agradar a Deus, visando a uma troca para adquirir a salvação eterna, o “papel de vítima” costuma ser usado, em muitas ocasiões, para dissimular uma grandeza inexistente na alma. Oculta igualmente uma máscara de resignação, para que o individuo não descubra ou não tome consciência do que ele realmente é.
Jesus Cristo, o Médium de Deus, entregou-se ao holocausto em prol da missão de amor pela humanidade, que para Ele foi a plenitude da implantação de uma vida consciente e amorosa em todas as criaturas da Terra. É compreensível que muitas almas sublimadas se entreguem a atos heroicos ou ao martírio de si mesmas. Para a exemplificação e glorificação dos ideais superiores da Divina Providencia. O Mestre, porém, não se deixou crucificar para ser reconhecido como herói ou mártir, mas para semear os princípios da “sabedoria que eleva” e do “amor incondicional” n coração de todas as criaturas.
Os médiuns devem exercitar a capacidade de distinguir entre o “sacrifício regenerador” e o “culto ao sofrimento” causado pela fraqueza e pela credulidade, filhas das crenças injustas e absurdas.
Na vida, cada ser está estagiando num determinado grau evolutivo; por isso existem diversas missões e inúmeros encargos nos caminhos existenciais.
Médiuns! Qual é o seu conceito sobre mediunidade? Vocês a veem como método educacional ou como exaltação à dor? Será que sua vivência atual (heroísmo ou martírio) é um produto necessário a seu desenvolvimento e crescimento espiritual, ou simplesmente fruto de uma auto-punição ou de um auto-engano?
Livro: A imensidão dos Sentidos.
Hammed / Francisco do Espírito Santo Neto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário